“Eles não dormem, não comem e obedecem sem questionar.”
A corrida por robôs militares autônomos — bípedes,
Imagine um campo de batalha onde soldados nunca dormem, nunca hesitam e seguem ordens com precisão matemática. Essa não é uma cena de ficção científica — é a realidade que está se desenhando nas fronteiras militares mais avançadas do planeta.
Enquanto drones dominam os céus, uma nova corrida armamentista avança por terra: a disputa por robôs-soldado autônomos. Plataformas terrestres equipadas com inteligência artificial, sensores avançados e armas de guerra já estão em testes — e em operação — em países como EUA, China, Rússia, Coreia do Sul, Israel, Belarus e Estônia.
Esses sistemas prometem reduzir baixas humanas, ampliar o alcance tático e operar em zonas de alto risco. Mas levantam perguntas cada vez mais urgentes sobre ética, controle e o futuro do combate.
A seguir, você vai conhecer os principais robôs de combate do mundo atual — suas capacidades, armas, inteligência embarcada e onde (ou como) já estão sendo usados.
Q-UGV / Vision 60 – Ghost Robotics (EUA)
Nome completo:
Vision 60 Q-UGV (Quadrupedal Unmanned Ground Vehicle)
País de origem:
Estados Unidos
Fabricante:
Ghost Robotics (Filadélfia, EUA)
Características Técnicas:
Especificação | Detalhes |
---|---|
Peso | ~51 kg |
Altura | ~76 cm |
Autonomia | Até 10 horas (dependendo da carga e terreno) |
Velocidade | Até 3 m/s (~10,8 km/h) |
Capacidade de carga | Até 10 kg (modular) |
Alcance operacional | ~6 a 10 horas de operação contínua |
Tipo de energia | Bateria elétrica (recarregável) |
Sensores | Câmeras RGB, térmicas, LIDAR, GPS, IMU, sensores de obstáculos |
Ambiente | Opera em terrenos irregulares, chuva, neve e lama |
Comunicação | Controle remoto via RF, LTE, 5G, ou autonomia programada |
Função Principal:
Plataforma terrestre não tripulada para vigilância, reconhecimento, inspeção remota, patrulhamento tático, e missões de segurança — tanto civis quanto militares.
Destaques Tecnológicos:
- Design modular para sensores e payloads personalizados
- Alta mobilidade: sobe escadas e se reequilibra em quedas
- Construção resistente (grau militar)
- Modos autônomo e semi-autônomo
- Integração com IA embarcada e visão computacional
Versões com Armamento:
Testado com rifle SPUR (Special Purpose Unmanned Rifle), desenvolvido pela SWORD Defense — gerando polêmica sobre uso de robôs armados.
Uso Atual:
Adotado por Forças Armadas dos EUA, Guarda Nacional, forças de segurança e aplicações industriais.
Curiosidades:
- Versões com sensores para detecção química e biológica
- Apelidado de “robocão tático”
- Concorrente direto do Spot (Boston Dynamics), porém mais voltado à aplicação militar
Robot Dogs Armados – PLA / China
Nome genérico:
Robôs quadrúpedes armados (sem nome oficial público fixo – modelo varia por fornecedor)
País de origem:
China
Fabricantes envolvidos:
- Unitree Robotics
- Xiaomi Robotics Lab (versões civis adaptadas)
- NORINCO (rumores de integração militar)
- DeepRobotics (modelo Jueying usado com armamento)
Características Técnicas (modelo típico militar):
Especificação | Detalhes |
---|---|
Peso | 50–60 kg |
Altura | ~70 cm |
Autonomia | 2 a 4 horas em terreno hostil com carga |
Velocidade | ~3–5 km/h com armamento |
Capacidade de carga | 10–15 kg |
Tipo de energia | Bateria elétrica (recarga via base ou portátil) |
Sensores | Câmeras frontais, LIDAR, sensores de distância, IMU |
Armas instaladas | Rifles automáticos tipo QBZ-95 modificados, em torreta superior |
Controle | Remoto via tablet, rádio ou 4G/5G; testes com IA embarcada |
Sistema de tiro | Modo semiautomático, com mira estabilizada e gatilho remoto |
Função Principal:
Robô de apoio de fogo terrestre, usado para combate urbano, patrulhamento armado, vigilância e infiltração em ambientes perigosos, como prédios e túneis.
Destaques Tecnológicos:
- Visão computacional para navegação autônoma básica
- Integração com drones aéreos para reconhecimento e cobertura
- Mira assistida por IA (em desenvolvimento)
- Capacidade de seguir soldados automaticamente
- Capacidade de abrir portas e atravessar escombros
Demonstrações públicas:
- Outubro de 2023: PLA divulga vídeos com robôs-cães armados em treinamentos reais
- Junho de 2024: vídeos mostram robôs sendo lançados por drones em telhados e entrando em prédios
Uso Atual:
- Missões de demonstração em zonas urbanas simuladas
- Testes com forças especiais para infiltração rápida
- Operações de reconhecimento armado remoto
Curiosidades:
- Apesar do impacto visual, os robôs ainda são altamente dependentes de controle humano
- Exploração do conceito de enxames coordenados entre robôs terrestres e drones
- Várias tecnologias derivam de modelos civis adaptados para uso militar

Uran‑9 – Rússia
Nome oficial:
Uran-9 Unmanned Ground Combat Vehicle (UGCV)
País de origem:
Rússia
Fabricante:
JSC 766 UPTK (subsidiária da Rostec)
Características Técnicas:
Especificação | Detalhes |
---|---|
Peso total | Aproximadamente 10.000 kg (10 toneladas) |
Dimensões | ~5 m de comprimento, ~2,5 m de largura e ~2,5 m de altura |
Tripulação | Não tripulado (controlado remotamente) |
Propulsão | Motor a diesel |
Velocidade máxima | Até 35 km/h em estrada; ~25 km/h em terrenos acidentados |
Alcance operacional | ~300 km de deslocamento; ~3 km de alcance de controle remoto direto |
Autonomia | Limitada à operação via controle remoto (não possui IA completa embarcada) |
Armamento:
Tipo de arma | Descrição |
---|---|
Canhão automático 2A72 | Calibre 30 mm, principal arma do sistema |
Metralhadora coaxial | 7,62 mm PKT (suporte secundário) |
Lançadores de mísseis | 4x mísseis antitanque Ataka (9M120) com ogivas HEAT e termobáricas |
Lançadores de foguetes | Mísseis terra-ar Igla-S (em algumas variantes) |
Sensores e Sistemas:
- Sistema óptico-eletrônico com câmeras térmicas e infravermelhas
- Telêmetros a laser
- Rastreamento automático de alvos
- Sensores de navegação e estabilização
- Torre de armas remotamente operada com estabilização automática
Função Principal:
Veículo de combate terrestre não tripulado (UGCV), desenvolvido para reconhecimento armado, apoio de fogo, patrulhamento e combate urbano, permitindo operar em áreas de alto risco sem expor soldados diretamente.
Destaques Tecnológicos:
- Sistema modular com torre armada e sensores integrados
- Controle remoto com link via rádio criptografado
- Capacidade de operar em ambientes contaminados ou de difícil acesso
- Design furtivo com perfil baixo e proteção blindada leve
Histórico de Uso:
- Testado em combate real na Síria em 2018
- Apresentou limitações operacionais significativas: perda de sinal, atraso no controle remoto, e baixa autonomia de decisão
- Atualmente em fase de aprimoramento, com atualizações periódicas pelo Ministério da Defesa da Rússia
Curiosidades:
- Apesar de promissor, foi criticado em relatórios oficiais russos após testes reais
- Sua torre de armamento é considerada de alta precisão
- Inspira projetos similares na China e no Irã
THeMIS Combat – Milrem Robotics (Estônia)
Nome oficial:
THeMIS (Tracked Hybrid Modular Infantry System) – Versão de combate armado
País de origem:
Estônia
Fabricante:
Milrem Robotics
Características Técnicas (versão de combate):
Especificação | Detalhes |
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Peso | ~1.630 kg (varia com carga) |
Dimensões | ~2,4 m (comprimento) x 2,0 m (largura) x 1,1 m (altura) |
Propulsão | Sistema híbrido: elétrico + motor a diesel |
Autonomia | 8 a 10 horas (modo híbrido); 1–2 horas somente elétrico |
Velocidade | Até 20 km/h |
Capacidade de carga | Até 1.200 kg |
Controle | Remoto via rádio seguro ou totalmente autônomo |
Terreno | Opera em off-road, neve, lama, areia, florestas |
Blindagem | Opcional (leve/modular, dependendo do uso) |
Configurações de Armamento Possíveis:
- Metralhadora pesada (ex: FN Herstal de 12,7 mm ou M2 Browning)
- Mísseis antitanque (ex: SPIKE, Javelin – depende do módulo)
- Lançadores de granadas automáticos
- Torre RCWS de fabricantes como Kongsberg, EOS, Rafael
Função Principal:
Plataforma robótica modular para combate, apoio logístico, evacuação médica, guerra eletrônica e reconhecimento armado, com ênfase em operações conjuntas com tropas humanas.
Destaques Tecnológicos:
- Arquitetura modular aberta
- Baixo perfil sonoro em modo elétrico (ideal para infiltração)
- Compatibilidade com IA embarcada e navegação autônoma
- Comunicação segura com múltiplos níveis de redundância
- Integração com drones e sistemas de comando e controle
Histórico e Uso Real:
- Utilizado pela OTAN em testes desde 2019
- Empregado na guerra da Ucrânia (versões de apoio e combate)
- Avaliado por França, Alemanha, EUA, Emirados Árabes e outros
- Usado em missões da ONU e exercícios da UE
Curiosidades:
- Primeiro UGV europeu operacional em zona de combate (Ucrânia, 2022)
- Já configurado com módulos médicos para resgate de feridos
- Transportável por helicópteros, navios e aviões militares
- Nome significa “Tracked Hybrid Modular Infantry System”
Berserk – Belarus
Nome oficial:
Berserk Robotic Combat Complex (Берсерк)
País de origem:
Bielorrússia (Belarus)
Fabricante:
Empresa de Defesa Estatal da Bielorrússia – “BSVT – New Technologies”
Características Técnicas:
Especificação | Detalhes |
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Peso | ~1.000 kg (1 tonelada) |
Dimensões | Aproximadamente 2 m de comprimento e 1,5 m de altura |
Plataforma | Esteiras de borracha (mobilidade todo-terreno) |
Velocidade | ~5 a 8 km/h |
Autonomia | 3–6 horas de operação contínua |
Controle | Estação remota com alcance de até 5 km |
Energia | Motor elétrico com baterias recarregáveis |
Blindagem | Leve (proteção contra estilhaços e armas leves) |
Armamento:
Sistema | Descrição |
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2x GShG-7.62 | Metralhadoras rotativas de 4 canos, calibre 7,62 mm |
Cadência de tiro total | ~6.000 tiros por minuto |
Munição transportada | Aproximadamente 1.000 a 2.000 cartuchos |
Função Principal:
Sistema de combate não tripulado para interceptação de drones, proteção perimetral, suporte de fogo leve e combate contra infantaria inimiga. Ideal para defesa aérea de baixa altitude contra drones FPV, UAVs pequenos e alvos leves.
Destaques Tecnológicos:
- Sistema de rastreamento automático com câmeras ópticas e térmicas
- Capacidade de operar com sensores de radar de base
- Pode ser escondido em trincheiras ou camuflado no ambiente
- Transmissão de vídeo em tempo real para o operador
- Controle remoto protegido contra interferência eletrônica leve
Histórico e Uso Real:
- Apresentado pela primeira vez em 2018 em feiras de defesa de Belarus
- Testado para interceptação de drones comerciais e FPVs
- Proposto como solução para defesa de bases, aeroportos e infraestrutura crítica
- Sem confirmações oficiais de uso em combate real até o momento
Curiosidades:
- O nome “Berserk” faz alusão aos guerreiros nórdicos furiosos
- Alto volume de fogo em curto tempo, ideal contra enxames de drones
- Alternativa de baixo custo a sistemas antiaéreos complexos
- Pode ser operado por apenas um soldado com estação portátil
SGR‑A1 Sentry – Coreia do Sul
Nome oficial:
SGR‑A1 Autonomous Sentry Gun
País de origem:
Coreia do Sul
Fabricantes:
- Samsung Techwin (atualmente Hanwha Aerospace)
- Korea University (em parceria com o Ministério da Defesa sul-coreano)
Características Técnicas:
Especificação | Detalhes |
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Tipo de sistema | Sentinela automatizada estacionária com armamento |
Peso total | Aproximadamente 117 kg |
Altura da torre | ~1,5 m (montável sobre estruturas fixas ou plataformas elevadas) |
Energia | Fonte elétrica local com backup (bateria) |
Controle | Modo manual, semiautomático e autônomo (via rede) |
Sensores | Câmera diurna, infravermelha, detecção de calor, microfone e radar |
Alcance de detecção | Até 4 km visual, ~2 km com mira térmica |
Precisão de rastreamento | Inferior a 0,2 graus de desvio |
Armamento:
Tipo | Detalhes |
---|---|
Metralhadora K3 | Calibre 5,56 mm, padrão da infantaria sul-coreana |
Lançador não letal (opcional) | Munição de borracha, gás lacrimogêneo ou sirenes de alerta |
Modo de tiro | Pode disparar automaticamente ou sob autorização humana |
Capacidade de munição | Variável, depende do módulo acoplado |
Função Principal:
Sistema robótico fixo de vigilância e resposta armada, utilizado para defesa de fronteiras, proteção de instalações militares, postos avançados e áreas restritas, com capacidade de detectar, identificar, alertar e engajar alvos hostis automaticamente.
Destaques Tecnológicos:
- Reconhecimento automático de voz e movimento
- Emissão de comandos em coreano e inglês
- Sistema de mira assistido por IA com rastreamento contínuo
- Identificação facial e análise comportamental (em desenvolvimento)
- Integração com redes de vigilância e comando central
Uso Real:
- Instalado na Zona Desmilitarizada (DMZ) entre as Coreias desde 2007
- Empregado em bases do Exército da Coreia do Sul
- Utilizado como sistema de teste para futuras torres móveis autônomas
Curiosidades:
- Apesar da capacidade autônoma de fogo, requer confirmação humana (exceto em cenários críticos)
- É um dos primeiros exemplos de robô de combate autônomo com letalidade opcional
- Motivo de debates internacionais sobre ética no uso de força autônoma
- Base tecnológica para futuras torres inteligentes e defensivas
VIPeR – Elbit Systems (Israel)
Função Principal
Robô portátil para reconhecimento tático, combate urbano, desativação de explosivos (EOD), vigilância e infiltração.
Fabricante e História
Elbit Systems, em parceria com Galileo Mobility Ltd. Apresentado pela primeira vez em março de 2007
Especificações Técnicas | |
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Peso | 11–15 kg (≈25 lbs) |
Dimensões | ≈46 × 46 × 23 cm (18″ × 18″ × 9″) |
Velocidade Máx. | ~5–6 km/h |
Autonomia | 2–4 horas (variável conforme uso de sensores/armamento) |
Mobilidade | Sistema de rodas/lagartas “Galileo Wheel”, capaz de escalar escadas e superar obstáculos |
Transporte | Dobra e cabe em mochila, operável por 1 único soldado |
Sensores e Tecnologias
- Câmeras diurna e noturna (FLIR, zoom)
- Laser rangefinder
- Microfone e alto-falante para comunicação remota
- Detecção de gases e radiação (opcional)
- Mapeamento interno de edifícios
Armamento (opcional)
- Mini‑Uzi 9 mm com mira a laser
- Pistola Glock
- Lançador de granadas de fumaça ou impacto
Destaques Tecnológicos
- Rodas adaptativas “Galileo Wheel” para alternância rápida entre esteira e roda
- “Cauda” articulada para manter equilíbrio e subir obstáculos
- Versatilidade: reconhecimento, combate, suporte EOD e controle de área
- Operação silenciosa e discreta em ambientes urbanos
Testes e Participações em Conflitos
- Aprovado em teste no Modern Day Marine Obstacle Course, Quantico (2008), entre 8 robôs, destacou-se pela mobilidade
- Testado e avaliado pelo exército israelense (IDF) para operações de infantaria e forças especiais
- Desenvolvido para uso em cenários como túneis, áreas urbanas, combate em Gaza, Líbano e outros conflitos de baixa intensidade
Curiosidades
- Cherry-picked name: VIPeR é um acrônimo de Versatile, Intelligent, Portable Robot
- Pode ser equipado com braço robótico de 1,2 m para manipulação de objetos e desarmamento de bombas
- Ampliado em família com versões Mini‑VIPeR (3,5 kg) e Maxi‑VIPeR para cargas pesadas/EOD
- Controlado via estação terrestre ou até headset com vídeo “first person view”
- Usado em exercícios conjuntos com forças dos EUA e outras OTAN
Panorama Global e Tendências
Expansão em massa: EUA, China e Rússia lideram, enquanto países como Belarus, Coreia, Estônia, Ucrânia e Israel pilotam robôs armados
Evolução tecnológica: Projetos mitológicos como BigDog (DARPA/Boston Dynamics, 2005) abriram caminho; robôs agora carregam armamentos e computação interativa
Desafios éticos e operacionais: Debates sobre responsabilidade, ruído, operação em proximidade civil e garantias de comando humano. Pesquisadores expressam preocupações com “killer robots” .
Futuro imediato:
Robôs bípedes humanoides (DRDO, Índia) com habilidades multitarefa até 2027
Integração de enxames UGV/UAV com sensores e IA cooperativa.
Normas internacionais ainda em construção, sob pressão da proliferação rápida.
Robôs-soldado autônomos já estão em teste real e, em muitos casos, em operação discreta — literalmente nos dedos de quem aperta o botão de disparo. Essas plataformas não dormem, não descansam e podem ser enviadas à frente com riscos humanos reduzidos — mas levantam dilemas profundos sobre ética, controle e futuras normas de guerra. A vigilância internacional e tecnológica será crucial nos próximos anos.