Computação Neuromórfica – Capítulo 14: Drones e robôs

Uma série sobre computação neuromórfica – Capítulo 14

No capítulo anterior, abordamos a transição para o MLOps Neuromórfico exige a reimaginação fundamental das ferramentas de deployment, monitoring e retraining para lidar com a natureza esparsa, temporal e eficiente das SNNs e liberar o potencial da IA de baixa energia na Edge.

A era dos robôs lentos e com baterias descarregadas está chegando ao fim. No centro desta revolução silenciosa está a Computação Neuromórfica (CN), uma tecnologia que imita o cérebro humano. Para drones, robôs de inspeção e veículos autônomos, a CN não é apenas uma melhoria; é o ingrediente secreto que finalmente os torna verdadeiramente autônomos, rápidos e duradouros.

Imagine a diferença entre um antigo computador de mesa e o seu próprio cérebro. O computador gasta muita energia e processa tudo em série, passo a passo. Seu cérebro, por outro lado, usa a energia de uma lâmpada fraca e processa trilhões de informações simultaneamente, de forma assíncrona e baseada em eventos. É essa eficiência biológica que a CN está trazendo para o mundo da robótica.

 

O segredo da sobrevivência: Por que a energia é tudo

Para um drone ou um robô de inspeção que opera longe de tomadas, cada watt de energia é precioso. Os sistemas de bordo atuais dependem de GPUs e CPUs robustas para processar a vasta quantidade de dados de câmeras, sensores e lidars. O problema é que esses processadores são gulosos.

Analogia da Torneira: Processadores tradicionais são como uma torneira que está sempre aberta, mesmo que você só precise de umas poucas gotas de água. O processamento neuromórfico é como uma torneira que só libera água (consome energia) exatamente no momento em que você a toca (quando há um evento ou mudança nos dados).

Este princípio de processamento baseado em eventos é a chave do baixo consumo. Em vez de processar 30 frames por segundo de vídeo, o chip neuromórfico (que usa Redes Neurais de Picos, ou Spiking Neural Networks – SNNs) só ‘acorda’ quando um pixel muda de cor ou um sensor registra uma nova vibração. Isso pode reduzir o consumo de energia em ordens de magnitude, permitindo que drones voem por mais tempo e robôs inspecionem áreas maiores.

 

O Fim do “Lag”: Percepção e navegação em tempo real

A capacidade de um robô reagir ao ambiente é limitada pela sua latência, o tempo entre capturar um dado e tomar uma decisão. Em um sistema autônomo, milissegundos importam.

Controle adaptativo e reflexos

O controle adaptativo é a habilidade de um robô mudar seu comportamento instantaneamente com base no que está percebendo.

  • Exemplo: Um drone de entrega voa em um dia calmo, mas, de repente, encontra uma forte rajada de vento lateral.
  • Sistema Tradicional: Os dados do sensor de vento precisam ser processados em série, o algoritmo calcula o ajuste necessário, e a instrução é enviada ao motor. Esse pequeno atraso pode desestabilizar o drone.
  • Sistema Neuromórfico: Os sensores de vento enviam picos (os dados) diretamente para o chip neuromórfico. A SNN, que imita a rede de neurônios do sistema nervoso, processa a mudança de forma paralela e imediata, ajustando os rotores em um tempo de resposta que se assemelha a um reflexo biológico. O resultado é uma estabilidade superior e um voo mais suave.
 

Navegação inteligente (SLAM)

Para robôs e drones navegarem em ambientes complexos (como túneis, florestas ou fábricas), eles precisam mapear o ambiente e se localizar simultaneamente, um processo chamado SLAM (Simultaneous Localization and Mapping).

Os chips de CN integram perfeitamente dados de múltiplos sensores (visão de eventos, câmeras, lidars) de maneira muito mais eficiente que os processadores convencionais. Essa integração assíncrona garante que a percepção seja contínua e não baseada em frames travados, crucial para se desviar de obstáculos de última hora em alta velocidade.

Casos de uso concretos

O potencial da CN já está sendo explorado em diversas aplicações críticas:

  1. Inspeção de Infraestrutura: Robôs que inspecionam turbinas eólicas ou linhas de transmissão de energia precisam trabalhar de forma autônoma e silenciosa. A CN permite que eles usem visão de eventos para detectar pequenas rachaduras ou desgastes em movimento, consumindo pouquíssima bateria enquanto o robô se desloca pela estrutura.
  2. Drones de Busca e Resgate: Em ambientes de desastre, a vida útil da bateria é crítica. Drones equipados com CN podem usar seus sensores de forma eficiente, focando o consumo de energia apenas quando detectam calor (infravermelho) ou movimento (visão de eventos) relevante, aumentando significativamente o tempo de missão.
  3. Robôs Domésticos Inteligentes: Até mesmo em casa, a CN pode trazer a próxima geração de robôs. Em vez de processar vídeo continuamente para reconhecer pessoas e objetos, um chip neuromórfico simplesmente reage ao movimento e à interação, permanecendo dormindo e silencioso na maior parte do tempo.
 
 

Próximos Capitulo

A revolução da IA Generativa é impulsionada por uma complexa dependência mútua entre as startups ágeis (criadoras de modelos como OpenAI), os gigantes de semicondutores (fornecedores de infraestrutura de silício como a NVIDIA) e os vendors de Cloud (os impérios que fornecem o ambiente e democratizam o acesso como Microsoft Azure, AWS e Google Cloud).
 

Fontes

Davies, M., et al. (2018). Loihi: A Neuromorphic Manycore Processor with On-Chip Learning. IEEE Micro, 38(2), 82-99.

Orchard, G., Frady, E. P., et al. (2021). Efficient Neuromorphic Signal Processing with Loihi 2. IEEE Workshop on Signal Processing Systems.

Shrestha, S. B., et al. (2023). Accelerating Sensor Fusion in Neuromorphic Computing: A Case Study on Loihi-2. ResearchGate (Preprint).

Gallego, G., et al. (2019). Event-based vision: A survey. IEEE Transactions on Pattern Analysis and Machine Intelligence, 44(2), 154–180.

Serrano-Gotarredona, T., & Linares-Barranco, B. (2013). Event-driven deep neural networks for autonomous navigation in mobile robotics. IEEE International Conference on Robotics and Automation (ICRA).

Maass, W. (1997). Networks of spiking neurons: The third generation of neural network models. Neural Networks, 10(9), 1659-1671.

Tavanaei, A., et al. (2019). Deep Learning with Spiking Neural Networks: A Review. IEEE Transactions on Neural Networks and Learning Systems, 30(12), 3409-3424.

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